August, 31st

Chego. pés na areia.olhos no mar. bandeira verde. posiciono a espreguiçadeira no ponto mínimo para um recosto máximo. reclino-me. deixo-me abraçar pelas verticais riscas azuis e brancas que me vão proteger e embalar docemente. fecho os olhos. neste fechar de olhos construo o meu mundo. sinto o sol a acariciar-me a pele. a fazer pequenos estalidos nas sardas protegidas. pelo menos assim parece. permito-me sentir. olhos fechados. coração aberto. escolho os retalhos das conversas que capto e anulo-as ou repesco pequenos apontamentos que me permitem sorrir e chorar por dentro dos meus olhos fechados. ouço o mar. sempre a som do mar que preciso como se de ar se tratasse. sinto a brisa que não se dissocia do mar e do sol. deste mar e desde sol. dentro do olhar que permanece fechado vejo, afloro e aprimoro os outros sentidos. o café de sempre ainda permanece colado às papilas gustativas. a pele sabe-se ao sol e sal que tanto gosto. estou aqui. aqui é todo o lugar que o meu olhar fechado abarca e constrói. abafo as conversas. as vidas dos outros são só as vidas e as estórias dos outros. não me fecho ao som suave que vem do apoio de praia. sim. estou na praia. pés na areia. corpo contra a lona azul e branca. as riscas são animadas pelo amarelo canário que cobre parte da pele. da minha pele. e pela dança do sol. a música, um sereno chill out que se conjuga e brinca com as ondas e o sol podem permanecer.a maciez da areia também. e a brisa. a brisa que me eriça a pele, como que a deixar-me estar em qualquer lugar estando presa ao lugar de sempre. só é de cá esta equação de sol. sal, brisa, água, frio e quente. o paladar anseia pelo sol e pela pimenta das batatas. AS batatas do verão. chegarão mais tarde. talvez acompanhadas da Heineken. não sei ainda e não interessa. só depois de abrir os olhos. agora não. agora sou dona do meu tempo. agora o sol aquece apenas a minha pele cansada e esconde-se para todos os outros veraneantes. agora a brisa escolhe apenas a minha penugem para acariciar e brincar. agora sou eu e o que decido ser. dentro do meu olhar abre-se o mundo. os olhos fechados. a alma desperta e sedenta de novas decisões. 
Sim. decido. 31 de agosto é o meu 31 de dezembro de parte do mundo. tal como 14.03. tal como todos os dias 19. os meus inícios de ano são diferentes e intercalados. não  cabem em ciclos certinhos de 365 dias.
Preciso deste sol. preciso dos olhos fechados e do calor no rosto. preciso de decisões. e o sol tão cúmplice. e o murmúrio do mar fazendo crescer a fé em projectos de mudança. e a areia a obrigar-me a sentir o chão. enquanto o resto do meu mundo brinca ou amolece ao sol, enquanto o resto do mundo vive um fim de tarde de agosto perfeito, as histórias e as decisões cruzam-se. as minhas. as deles. os olhos fechados são determinantes. assim vejo mais e mais claro.
Sinto uma sombra e o sol decide aquecer-me um pouco menos. a brisa parece repentinamente mais forte. sou forçada a abrir os olhos. o meu pequeno rapaz está defronte de mim. ele é a presença que me devolve a realidade de olhos abertos. quer fazer dois buracos bem fundos e uni-los por um túnel subterrâneo construído a quatro mãos, as nossas quatro mãos. que curiosa maneira de unir o decidido de olhos fechados com o executado com as mãos na materialidade. a vida pode seguir. todos os sons e cheiros podem voltar. sou de novo do mundo. sou de novo de mim. ainda não parto. não fazia parte das decisões tomadas para hoje, hoje vivo. sorrio. sinto. hoje aqueço-me. quando partir não sou a mãeee que cheguei. nunca somos os mesmos ao chegar e ao partir, certo?


[foto tirada por moi même, a mãeee]

escrito, sentido e vivido aqui a 31 de Agosto de 2013

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