da sensação de (in)utilidade


Já há muitos anos me avisaram, sem resultado diga-se, que teria uma característica que me direciona para as pessoas, para os outros; uma espécie de radar, ou sentido apurado para ver a tristeza instalada atrás do sorriso brilhante;

para perscrutar sob o olhar uma névoa de abatimento, de incerteza, de mágoa. Um brilho baço, que à maioria passa despercebido.

Não sei se é assim.

Sei que, fruto da minha própria experiência, das minhas vivências, das minhas máscaras de bem-estar para resistir ao dia a dia, me é, talvez mais simples, ou imediato, ou qualquer substantivo que agora não me vem à ponta os dedos, reconhecer essa tristeza profunda, entranhada bem no âmago do nosso ser, nos outros...

particularmente nos outros que amo ... e isso faz doer como se fosse comigo. Ou talvez mais do que se fosse comigo...

São também as minhas dores, incertezas, mágoas e desilusões, as que me são ditas por palavras, olhares, abraços, silêncios ou afastamentos de contacto físico. Corroem-me por dentro. Sou consumida por elas. Tenho de me sentir útil, caso contrário sofro e sofro e não possuo o botão stop ou pause para me abstrair...

Neste momento, por motivos diferentes, tenho duas ou três pessoas/situações em que gostava de me ter enganado redondamente, em que queria ter errado na preocupação, na dúvida se estaria a ver dor onde apenas morava cansaço ou rotina.

Não me enganei. Infelizmente. E sinto-me impotente. Inútil. Não sei como ajudar efectivamente. Não me quero impor. Não quero intrometer. Mas estou a ser levada numa espiral de preocupação e desilusão por não ser capaz de tirar a dor e o medo e a dúvida de dentro dos corações e da alma destas pessoas que amo. Destas pessoas que fazem parte da minha vida e são fragmentos de mim, porque com elas construo também a minha estória pessoal e familiar de vida.

Estou desolada comigo. Sinto-me inútil, incapaz, incompetente para ser porto de abrigo.

Quero abraçar e ser abraçada. Chorar e mimar quem chora. Quero ser esperança e ombro amigo. E olhar atento. E ouvidos apurados. E quero poder dizer 'não sei como te sentes, não tenho como saber; não sei a resposta nem a solução, mas estou aqui, para procurarmos junt@s, para traçar um caminho, para caminhar ao teu lado, para te levar ao colo, para mimar os teus quando não poderes ou conseguires ...

A inutilidade face ao sofrimento dos que amamos é uma profunda forma de tortura ...

Comentários

  1. Entendo perfeitamente.
    Também me sinto assim, de vez em quando,e é muito mau.
    Para não te sentires assim, frisa bem a esses que amas que tens 2 ouvidos sempre disponíveis para eles, e dois ombros...
    Ajuda muito...
    Beijinho minha querida.

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  2. Não sei o que te diga minha querida amiga.

    Bjs

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