Santo António já se acabou, o São Pedro está-se a acabar, S. João S. João S. João deixa-me falar do S. Rodrigo por favor
Não não é engano.
Tentei muito não falar do Rodrigo aqui. não por ele, que continua a sua missão e me aquece com o seu sorriso gravado a fogo e ferro na lembrança. por mim. por mim tentei deixar passar aqui este registo. queria insuflar o T3 (que por acaso agora é um T2 embora continuemos a ser 5) se pensamentos bons e risíveis. não diz que a silly season está ao virar da esquina?
mas não consigo. tenho de ser, e serei sempre, em primeiro lugar, fiel a mim e às minhas emoções.
quando soube que o Rodrigo já não tinha febre, mas também que o seu sorriso já só nos ficaria na lembrança, estava longe. no meio do mar. no meio de muita gente que esperava de mim o profissionalismo que tive de inventar para falar e descrever e mostrar cientificidade. só queria fugir. refugiar-me na dor de saber que esta parte da tua jornada tinha terminado e chorar-te como se chora um familiar próximo. nunca te vi fisicamente Rodrigo. nunca te abracei nem peguei ao colo. mas eras meu familiar, meu exemplo, meu pilar. perante a tua luta, todos os meus pequenos obstáculos pareciam (e serão) insignificantes. e a esperança levava-me a acreditar que iria acompanhar o teu sorriso com 20, 30, 50 anos, quando tu nunca soubesses quem era aquela que, por algum acaso da vida, contigo se cruzasse num qualquer café ou biblioteca ou concerto de verão. tive de esconder bem fundo a minha dor e desgosto e sorrir, palavrar, falar do ouro branco de outros tempos, dos seus contentores e da economia imperial à escala global. tive de conversar italiano, castelhano, português, madeirense (perdoem-me, mas não é bem a mesma coisa) quando, por dentro só falava choro e dor.
Irritei-me por não poder apanhar um avião, passar para abraçar com força os meus filhos, dispersos por vários braços que os acolheram e lhes deram o carinho e o amor que aquela distância profissional nos obrigou. e daí voar para onde estivesses, agarrado ao teu peluche, imóvel como nunca devias ter estado senão em breves sonos sem febre.
As minhas entranhas enlutaram, o coração murchou e vivi intensamente e sozinha a dor. a dor de ter perdido de quem nunca conheci o toque. achei que estava a ser injusta. com que direito me reclamava eu tamanha dor comparado com a mãe do Rodrigo, o seu irmão, a sua avó e tantos tantos que lhe puderam dar apoio presencial e físico? e tentei afundar um pouco mais e esconder um pouco mais fundo esta bola de carvão que acompanhou o sms de "o Rodrigo partiu". Desde esse dia, nessa ilha, te vou escrevendo: como vãos os dias, como S. Pedro anda bipolar, como sentirias hoje o vento a bater-te da cara ou o sol a tisnar-te o rosto. escrevo-te também as saudades que tenho tuas.
sabes: nunca que disse. no dia que te conheci estava a acabar de ler, desfeita em lágrimas, o livro "Óscar e a Senhora Cor de Rosa". Acreditei que não seria coincidência e que, contigo, aquelas últimas páginas não chegariam a ter razão de ser. quero acreditar que foste feliz até ao fim, graças a muitas senhoras cor de rosa, desde logo a tua mãe.
quero que saibas e que fique aqui registado que gosto de ti. não gostei de ti apenas Rodrigo. Gosto de ti. Assim ... para sempre
Ajuda-me com o teu sorriso por favor. Obrigada pelo teu testemunho de vida.
Ao ler estas suas palavras o aperto no peito e o nó na garganta voltaram,senti exactamente a mesma coisa no dia infeliz que soube da noticia no nosso menino,também rodeada de gente engoli as lágrimas e esse nó na garganta engoliu todas as minhas palavras até que fiquei só e chorei,chorei,chorei até hoje ainda não consigo falar do nosso querido menino sem que as lágrimas voltem!!!!obrigada por partilhar estas palavras ,ja não me sinto sozinha!!!<3
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