Vossa

Ser [vossa] mãe.
Estranha forma de vida. Esperada e ansiada forma de vida.
A minha.
Ser [vossa] mãe nos dias bons e de sol, com a mesma tenacidade dos dias de trovejos e relâmpagos a rasgar o céu ou as pequenas coisas dos nossos dias. Quando o corpo ajuda e quando as dores (as minhas) não dão tréguas. Quando o corpo ajuda e quando as dores (as vossas) não dão tréguas. Quando sorrio e quando ralho. Quando vocês sorriem e quando berram. Quando vos deito com leite, história ou beijo, ou um 'já para a cama' arremessado. Quando abraço e quando amasso. quando sussurro cantigas de niñar e quando repreendo com voz de trovão.

Quando tenho o coração partido ou quando ele transborda de alegria e orgulho por cada pequena conquista dos vosso/nossos dias.
Ser [vossa] mãe é uma lição de vida quotidiana. Eu reinvento-me, vocês mudam, o mundo corre e este grande músculo, que alguns chamam coração, cresce na exacta proporção do aumento do meu amor por vocês sob pena de não caber mais no meu peito...

Ser [vossa] mãe tendo por [vosso] pai um companheiro muito especial. O que eu desejei para vosso pai. Um cúmplice de viagem...

Ser [vossa] mãe é um privilégio.

Não sou 'só' vossa mãe. Não o saberia ser e acredito que ninguém é 'apenas' mãe. Mas ser [vossa] mãe é tanto de mim, que me angustia não ter mais tempo para ser 'só' vossa mãe. Mais tempo para crescermos juntos e apreendermos estas lições únicas de amor em doses de matemática, e (in)disciplina, e carinho, e histórias polvilhadas de açúcar baunilhado, e sons ronronados, e letras adocicadas pelo doce sabor de uma gargalhada...

Obrigada por me deixarem ser
[vossa] mãe.

(imagem: Maternidade, por Almada Negreiros, 'apanhada' no google images)