capítulo XII




Iniciou-se hoje a primeira página do último capítulo deste ano: dezembro começou.
Estes dias que passaram foram de recolhimento  e nostalgia. três anos passaram. três. a nossa vida não está igual. não a recuperámos ao ponto da lembrança não trazer com ela a mágoa como lapa... 
parece que deixo de conseguir respirar nos últimos dias de novembro desde há três anos: primeiro porque o dia se aproxima. com ele as memórias de dias normais e felizes. das comidas quentes e reconfortantes em volta da mesa e das noites de sofá, chá e mantas pelas pernas. dos planos para viajar. para as obras que se seguiriam na remodelação do lar. do nosso ninho. depois chega O dia. e as horas vão trazendo à lembrança o sair de casa, como num qualquer dia de semana. a correria da manhã para não chegarmos atrasados aos nossos destinos. os lanches. as mochilas e casacos que se transportam porta fora. e o telefonema que não se quer receber. as memórias destruídas. a vida suspensa... nós juntos. chamuscados na alma mas salvos e juntos. os telefonemas. as conversas. a incerteza. a incredulidade. tudo junto se mistura ainda hoje cá dentro num silêncio que me ensurdece.
Por isso gosto quando o calendário muda para Dezembro. outro nome, nova promessa.
Frio. neve. lareira. chá. promessa de chocolate quente. bolachas. e união... sem essa premissa tudo seria descabido: podemos não ser os mesmos. podemos não ter as mesmas coisas, nem sequer ter recuperado as que perdemos. mas estamos juntos. e gostamo-nos numa verdade exigente que nos enlaça. esse é o calor que quero à minha volta. esse calor afasta a memória do fumo negro. do cheiro. do vazio.
Preciso de ti Dezembro. preciso fazer caminhada até à noite do ano em que as promessas de amor e felicidade se renovam à mesa. com quem nos é tanto. com quem nos é tudo.
Obrigada por teres chegado.

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