UM

Há um ano atrás, o dia amanheceu igual a tantos outros dias. Terei chamado as crias umas poucas de vezes para sairem do quentinho do ninho. Insistido para tomarem o pequeno almoço. Teremos alertado para o facto de já estarmos atrasados para sair para as escolas e os trabalhos 'pralá' de uma dezena de vezes.
E saímos para o frio da rua, cada um para o local onde era suposto estar. Com a certeza de que a nossa casa nos aguardava como era suposto a cada dia.
Há um ano atrás recebi um telefonema que me gelou o coração e nos lançou para uma nova existência: a minha casa, o nosso ninho estava a arder. E para essa sensação de insegurança, para esse momento em que o costumeiro e banal deixa de existir nós não estávamos preparados...
Faz hoje precisamente um ano que a nossa vida mudou. Faz um ano mas parece fazer muito mais: porque a vida ainda não regressou à normalidade. Porque ainda nos sentimos apátridas. Porque ainda não habitamos o que é nosso.
Foram muitos, felizmente, os que nos ajudaram nos dias que se seguiram a essas horas. São alguns os que ainda permanecem ao nosso lado, ajudando a normalizar o que não é (ainda) normal. São os suficientes, porque acreditamos que são os que tinham de ficar. Com todos os episódios da vida se aprende. Com este aprendemos imenso. O ano que se desenrolou à nossa frente desde 29.11.2011 foi exigente e desafiante. Temos dívidas de gratidão que nunca desaparecerão. Temos choros e colos e embalos e horas de conversa que nos fizeram manter a lucidez e não deixar a esperança escoar por entre os dedos. Temo-nos uns aos outros. Perdemos muitas coisas. Perdemos registos de memórias, fotos, desenhos, livros, eletrodomésticos, mobília, roupa, ..., mas não nos perdemos uns dos outros.
Há um ano atrás a nossa vida mudou. Hoje continuamos juntos e agregados pela super-cola5 do amor.
A normalidade há-de chegar... Desde que o amor não falte, com o resto vamos lidando a cada curva do caminho...

Comentários

  1. Já tinha pensado nisso, que se a memória não me falhava, estaria a fazer um ano
    Tudo há-de melhorar
    Um abraço bem forte

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  2. Sim...a normalidade sempre chega, beijinho grande

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