A fusão dos dias Internacionais de tanta coisa ... ou dos fins de dia imprevistos

Há um período do dia cá por casa absolutamente imprevisível. Bem, há muitos, mas este em particular pode ditar o rumo das horas que se seguirão: chama-se o momento de chegada a casa depois de um looongo dia de escola e/ou trabalho.
Gostava de dizer, como leio em tantos sítios que o conseguem (clap clap clap, preciso de lições), que tudo corre segundo as rotinas pré-estabelecidas e que, embora cansativo, tudo corre bem, sem fugir ao plano inicial dia após dia após dia. Podia. Mas estaria a mentir.
Claro que temos dias assim - graças a Deus! -, períodos de dias até, mas depois, vindo do nada, vêm os compromissos deles não previstos, os nossos, os de todos, os acontecimentos extraordinários (como termos um grupo luso-holandês de teenagers cheias de vida, sonhos, alegria e energia em casa), as birras, o cansaço, os omnipresentes t.p.c's a triplicar, o nosso cansaço, os nossos trabalhos,  as dores, os achaques e as reuniões em cima da hora mas fora de horas ... e, nesse período entre a chegada a casa e a hora de deitar, parece que Alguém está disposto a fazer de nós exemplo prático numa qualquer aula celestial, da veracidade dos passos da Ley de Murphy...
Ora é Uma que não aprendeu as contas assim e bloqueia com outra explicação, exigindo que respiremos fundo e nos reinventemos; ora Outro que não sabe como desenhar um caracol ou uma joaninha ou uma lagarta ou outro animal e o ânimo descarrila por ali abaixo mais depressa do que a meta que é suporto atingir neste exercício; ora as dores que não dão tréguas e complicam a mais simples das tarefas domésticas ... e as horas de jantar, e o tempo de qualidade inventado à hora do banho, seguido de um "tens de te despachar para jantar" (qualidade???)... a história contada, construída ou inventada ...
Há dias que não sei como aguentamos. A sério. Nós e as crianças. Nós como casal. Nós como pais de uma adolescente. Nós como pais de duas crianças. Como ainda vamos buscar força para um beijo roubado a atravessar o corredor daquela que temos de ir tornando a nossa casa? Como se ouvem risos entre ralhetes? Como não ter um avc enquanto a pressão sobe?

Sim, por vezes penso que esta sociedade, ou melhor, este ritmo que nos é imposto, nos transforma em panelas de pressão, que vão assobiando cada vez mais rápido, cada vez mais forte ... até que alguém se lembre de tirar a fonte excessiva de calor e permita a libertação da pressão... ou até que expluda!

Mas depois chega o momento em que estamos na cama a conversar, a sonhar ainda de olhos abertos ou a ouvir uma música ou história e vocês adormecem ao meu lado... depositam toda a confiança dos vossos pequenos corpos e mentes quentes e brilhantes e se entregam ao sono reparador ... e eu fico ali a olhar-vos, a absorver cada respiração pausada, cada madeixa descaída que emoldura os vossos rostos ... e sinto que tudo volta ao seu lugar. Miraculosamente vocês são parte de mim e eu sou inteiramente vossa e tenho de estar inteira para vocês os quatro... E isso não se explica. Essa fracção de segundo onde passamos do aparente Kaos para a Harmonia não tem explicação ... mas existe. Nesta casa existe. Existe e dá força para nos reinventarmos, para sermos mais e melhores. Para sermos sempre uns dos outros.
E por isso hoje, no meio do Kaos semi-instalado com birra ao jantar para não comer a sopa, também houve tempo para falar, homenagear e ouvir música, porque era o seu dia; para falarmos da importância da arquitectura como fusão entre as ciências exactas e a criação, porque também é o dia em que se comemora, e para falarmos da temida palavra que tantos fogem, porque hoje é lembrada também: a depressão. Todas estas palavras, actividades ou estados de espírito têm um lugar na nossa família, por isso não deixa de ser curioso que todas partilhem o mesmo dia para serem lembradas pela sociedade!

Sim, este balanço dos dias úteis não é pink. Também não é dark, nem mesmo só grey ... porque temos em nós todas as cores do arco-íris. Porque somos gente feita de sonhos e desilusões... mas, acima de tudo, somos gente unida por uma invisível teia de amor. Que nos equilibra. Que nos permite ir mais longe. Que nos une sem nos amassar.
Somos partes uns dos outros, com tudo o que isso implica, por isso, quando somos brindados com o fim do dia, é isso que permanece: os laços que nos unem e nos atam e nos preparam para uma nova manhã de desafios... seja o novo dia mensageiro de rotinas, conquistas, desafios ou desilusões ...

Comentários

  1. Lindo o teu texto...realmente a nossa vida vive entre o caos e a harmonia...tantas vezes estamos a viver o caos e os nossos tesouros dão aquelesorriso que nos desarmam e voltamos a ver as cores do arco-íris?!

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  2. Adorei ler-te!
    Mesmo...olha nao há fins de dia perfeitos...há os nossos fins de dia, com birras ou sem birras, a falar mais alto ou mais baixo, uns que querem banho, outros que ainda que a tresandar, não acham precisar de banho...depois h´´a o jantar, e as idas ao wc, só para sair da mesa, e nós que fechamos os olhos porque já ralhámos o suficiente...enfim...isto querida é que é perfeito porque é a vida, é o real!
    Beijinho grande com muitas saudades

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  3. "Miraculosamente vocês são parte de mim e eu sou inteiramente vossa e tenho de estar inteira para vocês os quatro... E isso não se explica. Essa fracção de segundo onde passamos do aparente Kaos para a Harmonia não tem explicação ... mas existe. Nesta casa existe. Existe e dá força para nos reinventarmos, para sermos mais e melhores. Para sermos sempre uns dos outros."

    E que assim seja sempre, com mais ou menos dessas (des)harmonias que polvilham e dão cor à vida!

    bjs grandes

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Portanto uma casa cheia de Vida e de Amor!
    É o que se quer!

    mariavaicomasoutrasemaisalgumas.blogspot.pt/

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