Mais uma vez obrigada José Luís Peixoto! Tenho para mim que nos havíamos de dar bem

"...Uma boa ideia carrega em si o tamanho do mundo, uma expécie de felicidade incandescente. A explosão de um fósforo: a ideia inicia-se num ponto. Existe um mistério essencial nesse instante que separa o nada de qualquer coisa. O nada é transparente, pode ser atravessado por gestos e preenchido. A ideia é qualquer coisa e, por isso, fascina, cativa a atenção, como as lareiras das manhãs de inverno. A ideia ateia-se, expande-se através do sentido. Uma ideia ateia-se, expande-se através do sentido. Uma ideia pode incendiar o mundo inteiro. Os exemplos são tantos, é desnecessário enumerá-los. As ideias são fogo, fazem corar as faces. Quando se tenta contar uma ideia, luta-se com os limites das palavras. Nesse momento, a esperançaé que o outro se possa inclinar nas janelas dos nossos olhos e, descobrindo-se no alto de uma torre, possa ver tudo o que contêm, horizonte, distância.
Então, pode muito bem acontecer que o outro fique a olhar com o rosto impassível, anestesiado, pálpebras semidescaídas, até ao momento em que, perante o silêncio e a obrigação de ser pronunciar, diz: não, acho que não vai correr bem. Nesse momento, há algo que nos é roubado. Perdemos as chaves de casa, estamos, de repente, numa cidade estrangeira, deixamos de saber quem somos. Nesse momento, há uma reacção térmica, fogo versus gelo, e há um desapontamento sem direcção." (...)

excerto da crónica de José Luís Peixoto, na Visão de 8 de Março  de 2012

Ilustração retirada de Women Reading

Comentários

  1. Por vezes seria bom (bem...pelo menos interessante) perdermos tudo o que nos é familiar para finalmente sabermos quem somos.

    Beijo

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